segunda-feira, 30 de março de 2009

Epitáfio (Ricardo Reis [f. pessoa])

A Nada Imploram

A nada imploram tuas mãos já coisas, 
Nem convencem teus lábios já parados,
No abafo subterrâneo
Da úmida imposta terra.  

Só talvez o sorriso com que amavas 
Te embalsama remota, e nas memórias 
Te ergue qual eras, hoje 
Cortiço apodrecido.

E o nome inútil que teu corpo morto
Usou, vivo, na terra, como uma alma,
Não lembra. A ode grava,
Anônimo, um sorriso.

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